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Precisamos tratar o câncer sem nos esquecer do coração

 Melhora da sobrevida dos pacientes que enfrentam o câncer, efeitos colaterais do tratamento da doença no sistema cardiovascular, envelhecimento da população… A combinação desses fatores criou a necessidade de se desenvolver uma subespecialidade na cardiologia, a cardio-oncologia. A ideia central é resguardar o coração do paciente durante e após o tratamento oncológico.

As doenças cardiovasculares e o câncer são as duas principais causas de morte no mundo. A cada ano, 17,9 milhões de pessoas morrem por problemas no coração e 9,6 milhões por tumores, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com o aumento da expectativa de vida, tem sido cada vez mais comum pacientes cardíacos desenvolverem câncer e vice-versa. Além disso, alguns medicamentos e tratamentos oncológicos podem causar danos ao coração como efeito colateral.

Por ser a única organização da sociedade civil no Brasil dedicada às duas principais causas de morte, o Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) tem disseminado informação qualificada sobre o câncer e seu impacto no sistema cardiovascular há alguns anos. E é por isso que a a cardio-oncologia tem sido tema de debates promovidos pelo LAL com profissionais de saúde e representantes de órgãos governamentais para que todos estejam cientes e atualizados sobre essa tendência e seus desafios.

Mas, afinal, o que é cardio-oncologia? O termo descreve os esforços para prevenir ou tratar indivíduos com problemas cardíacos causados por tratamentos contra o câncer. Embora muitos pacientes também possam vir a sofrer com problemas pulmonares, renais ou infecciosos, o crescimento das doenças cardíacas nesse contexto fez surgir o campo que reúne oncologistas, cardiologistas e pesquisadores.

Apesar de a especialidade crescer a cada dia, ainda há poucos cardio-oncologistas no país. E temos trabalhado juntos às equipes multidisciplinares não apenas para melhorar os resultados do tratamento do câncer, mas também as condições cardiovasculares e a qualidade de vida dos pacientes à medida que envelhecem.

Hoje, medicamentos oncológicos têm sido desenvolvidos e liberados mais rapidamente e alguns deles podem afetar o coração de maneira inesperada. Seja devido a limitações das pesquisas clínicas, seja ao processo de se acelerar o uso desses fármacos em casos de alto risco, sabemos quão difícil pode ser detectar os efeitos colaterais ao coração antes que os remédios sejam liberados. Oncologistas e cardiologistas familiarizados com esse cenário do mundo real são os mais aptos a flagrá-los e propor medidas de proteção ao paciente.

Como o coração sofre?
O tratamento oncológico pode colocar o coração em risco de diferentes maneiras. A quimioterapia é capaz de danificar o músculo cardíaco e sua capacidade de bombear o sangue, levando à insuficiência cardíaca. A radioterapia, quando aplicada na região do tórax, pode interromper o ritmo cardíaco normal e danificar o revestimento ao redor do coração e as válvulas cardíacas. O maior risco da radiação é o desenvolvimento de doença arterial coronariana precoce e acelerada, o que aumenta a possibilidade de infarto.

Enquanto alguns pacientes não apresentam sintomas, outros têm falta de ar, dor no peito ou diminuição da capacidade de se exercitar. O que nós não devemos jamais dizer para eles é que deixem de receber os tratamentos que os fazem vencer o câncer. Os recursos terapêuticos são cada dia mais eficazes e o maior desafio, agora, é como podemos administrá-los com segurança para prevenir as doenças cardíacas.

Nesse sentido, a atuação precoce do cardio-oncologista é fundamental para evitar sequelas irreversíveis no sistema cardiovascular e também para permitir que o tratamento do câncer seja continuado sem prejuízo ao coração. Graças ao avanço das pesquisas na área, hoje é possível monitorar os pacientes de maior risco para cardiotoxicidade (o efeito tóxico do tratamento ao coração) e, com uma atuação preventiva, evitar complicações. Também é possível, em muitos casos, reverter a disfunção cardíaca que se desenvolve, garantindo a continuidade do tratamento oncológico.

Novas terapias estão ajudando os indivíduos a viver mais, mas isso significa que eles também podem precisar de tratamentos contra o câncer durante anos. Muitos desses sobreviventes agora viverão o suficiente após o tratamento oncológico para desenvolver doenças cardíacas. Sabe-se que ex-pacientes de câncer podem estar em risco de desenvolver doença cardíaca por até uma década após a conclusão do tratamento. É nessa esfera que a comunidade médica precisa aumentar a conscientização e fazer um trabalho mais próximo aos pacientes, sensibilizando-os para que fiquem alertas quanto aos sintomas e façam avaliações médicas periódicas.

Após o tratamento, os pacientes com câncer devem pedir aos médicos um registro detalhado de suas dosagens de quimioterapia e radiação para discutir com o cardiologista. É importante também um trabalho de educação e informação junto aos pacientes, seus familiares e toda a sociedade, para conscientizá-los de que, ao enfrentar um tratamento oncológico, podem e devem tomar medidas preventivas a fim de diminuir o risco de complicações ao coração.

O olhar aguçado para o que ainda não é visível a todos tem sido uma prática constante do LAL, que entende que identificar e aprofundar discussões sobre assuntos e tendências que impactarão a vida da população é o que existe de mais moderno na atuação e gestão de uma organização social comprometida com o futuro da nação. Por isso, o LAL tem a cardio-oncologia em sua agenda e divulga informações sobre essa nova subespecialidade com o objetivo de proteger e dar aos pacientes subsídio para que discutam com seus médicos os melhores caminhos a serem seguidos em seus tratamentos, visando sempre ao bem-estar e à qualidade de vida.

* Ariane Vieira Scarlatelli Macedo é cardio-oncologista da Santa Casa de São Paulo e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL)

* Marlene Oliveira é fundadora e presidente do LAL





Fonte: SaudeAbril